Afirmei aqui no começo da semana que assistiríamos aos 15 dias mais sujos da história política brasileira. Nunca vi — e nunca ninguém viu — nada igual. Professores universitários petistas puseram para circular um “Manifesto em Defesa da Educação Pública” que é, na verdade, uma peça de propaganda contra a candidatura Serra e em defesa de Dilma Rousseff. Se a Polícia Federal surrupiou uma mensagem de bispos contra o aborto, então algum ministro do TSE tem de botar a Polícia Federal no encalço destes mistificadores.
Subscrever tantas mentiras ao mesmo tempo deveria caracterizar formação de quadrilha. Espalhem este texto. Mostrem do que são capazes. Estão entre as estrelas do abaixo-assinado os “suspeitos de sempre”, como diria uma personagem de Casablanca: Fábio Konder Comparato (USP), Carlos Nelson Coutinho (UFRJ), Marilena Chaui (USP), Antonio Caandido (USP), entre outros de fioha menos conhecida… Coutinho, diga-se, é considerado por eles próprios o maior especialista em Gramsci no Brasil. Nota-se. Abaixo, em vermelho, o manifesto. E a verdade vai em azul. Só uma coisa: a imprensa online chegou a noticiar esse troço. E ninguém se interessou, na era do declaracionismo, em tentar saber se as acusações são verdadeiras ou falsas. A verdade parece interessar cada vez menos.
Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Ninguém deveria mentir. Um professor universitário, dedicado, supõe-se, à pesquisa e ao pensamento, menos ainda. É falta de vergonha. É falta de caráter.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo.
É mentira! Não foi invadida. Obedeceu a lei porque havia uma determinação judicial, já que um grupo de sectários, combatido até pelo PT, impedia o direito de ir e vir no campus. Foi uma decisão da Justiça.
Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas.
É mentira! Seguindo a lei, o governo exigiu que as universidades prestassem contas de seus gastos. Só isso.
Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
É mentira. Os salários são equivalentes aos das universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
É mentira! É a mais escandalosa de todas elas. Estes são os dados do Ideb:
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL:
Nota de São Paulo - 5,5
Nota do Brasil - 4,6
Meta nacional - 4,2
Colocação de São Paulo - 2º lugar; só perde para Minas, que obteve 5,6
Notas anteriores:
2005 - 4,7
2007 - 5,0
São Paulo avançou e superou a meta.
SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Nota de São Paulo - 4,5
Nota do Brasil - 4,0
Meta nacional - 3,7
Colocação de São Paulo - 1º lugar
Notas anteriores
2005 - 4,2
2007 - 4,3
São Paulo avançou e superou a meta.
ENSINO MÉDIO
Nota de São Paulo - 3,9
Nota do Brasil - 3,6
Meta nacional - 3,5
Colocação de São Paulo - 3º lugar - perde para PR (4,2) e SC (4,1) e empata com RS
Notas anteriores
2007 - 3,6
São Paulo avançou e superou a meta.
Quem não cumpriu as metas do Ideb foram quatro dos cinco estados governados pelo PT: Sergipe, Bahia, Piauí e Pará.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública.
É mentira! Basta pesquisar para saber. O PT combateu todas as iniciativas para qualificar a mão-de-obra e o programa de remuneração por mérito.
Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
É mentira! O governo de São Paulo conversou com os sindicatos. Combateu, isto sim, fascistas que queimam livros nas ruas. A vinculação política é tão clara que a Apeoesp, sindicato petista de professores, foi multado pelo… TSE!
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ.
É mentira! O número de alunos formados hoje nas universidades federais é o mesmo do último ano do governo FHC.
A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas.
É mentira! O maior repassador de recursos à universidade privada hoje é o governo federal, por meio do ProUni.
Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores.
É mentira! O governo do Estado adquire material didático de editoras privadas a exemplo do que faz o governo federal, com seu programa do livro didático. O que São Paulo fez foi unificar o currículo das escolas.
O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
É verdade! É o que acontece no governo federal.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”.
É mentira! Essa foi uma das vigarices que o PT inventou. Mas o que isso tem a ver com educação?
Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais.
Quem aceita todos os pedidos de CPI é o governo do PT, não é mesmo? Bando de vigaristas!
Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos.
É mentira! A sociedade é que descobriu o que Dilma pensava sobre o aborto. Mas o que isso tem a ver com a escola pública?
A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.
Um bando de lulistas falar em “celebração bonapartista” é piada. Ademais, os aliados de Collor hoje são Lula, Dilma, Marilena Chauí, Fábio Konder Comparato, Carlos Nelson Cutinho e Antonio Candido.
Quando afirmo que espero qualquer coisa de petistas, dizem que exagero. Eis aí. Os subscritores dessa porcaria encaram alunos em sala de aula, falam aos jovens. Não sou intolerante, não! Convivo com a divergência, sim. Não aceito é a mentira. E eles estão mentindo, como evidencio. E eu os desafio a provar que não estão. O que vai acima não passa de uma corrente terrorista para tentar eleger Dilma a qualquer preço.
No que diz respeito aos fatos, qual é a diferença essencial entre esse manifesto e aquele dos bispos recolhido pela PF. Aquele não traz uma só mentira. Esse não traz uma só verdade.
Por Reinaldo Azevedo
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