sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ofereço este documento ao Supremo: o dia em que Zé Dirceu confessou! Podem agregar aos autos! Foi dado o direito ao contraditório! É ele próprio falando!


José Luis de Oliveira Lima, advogado de José Dirceu, mandou um novo texto ao Supremo asseverando a inocência do seu cliente. Teve uma hora para fazê-lo, usou apenas 45 minutos, mas decidiu, de novo, ser notícia. A presunção de sempre é a de que, como chefe da Casa Civil, o Zé, não sabia o que ia pelo partido — e, bem…, nem pelo governo. Em 2007, ele concedeu uma entrevista à revista Playboy — que está reproduzida em seu próprio site.
Destaco três trechos em vermelho e comento em azul:
PLAYBOY – O senhor não parece muito à vontade ao falar da sua atividade de consultor.
José Dirceu – 
A lei me obriga ao sigilo e à confidencialidade, tanto no escritório de advocacia como aqui. Fazem campanha para me prejudicar. A minha vida é pública, eu continuo fazendo política, então é natural que escrevam e falem de mim. A minha atividade como consultor está totalmente legal, faz dois anos que saí do governo. Eu esperei um ano e meio. Posso fazer qualquer atividade.
PLAYBOY – Ter passado pelo governo que continua no poder não ajuda?
José Dirceu -
 O Fernando Henrique pode cobrar 85 mil reais por palestra, e eu não posso fazer consultoria? No fundo, o que eu faço é isso: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema! As empresas que trabalham comigo estão satisfeitas. E eu procuro trabalhar mais com empresas privadas que com empresas que têm relação com o governo.
ComentoViram só? “No governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema!” O sentido parece claro a qualquer leitor, não? O Zé deixou confessou que, mesmo como consultor — lobista é o nome —, era especialmente ouvido. Ora, no governo e no partido, um “telefonema do Zé sempre foi… um telefonema!” Numa democracia um pouco mais avançada e decorosa do que a nossa, Dilma Rousseff, que era, então, a chefe da Casa Civil, teria sido chamada ao Congresso para explicar a fala deste senhor. Em seguida, ele emenda que as empresas que trabalham com ele estavam satisfeitas. Por que não estariam, não é mesmo?
Nota: não sei se FHC cobrava aquilo por palestra — nem interessa. De toda sorte, ex-presidente da República, satanizado permanentemente por petistas, os que o convidavam certamente não estavam interessados em favores oficiais. Afinal, um telefonema do tucano NÃO ERA um telefonema! Lula, como ex-presidente, passou a cobrar R$ 500 mil por palestra. Por que cobrava muito mais do que o antecessor? Os petralhas vão dizer que é porque ele é mais amado, mais competente, mais inteligente. Bem, se um telefonema do Zé é um telefonema, um telefonema de Lula é uma ordem. Vale, pois, R$ 500 mil. 
Vejam, pois, senhores ministros do Supremo, como esses pobres coitados nunca sabem de nada. Mas calma! Há dois outros trechos da entrevista.
PLAYBOY – Ainda sobre alianças: o presidente Lula errou ao dizer que daria um cheque em branco ao Roberto Jefferson (PTB-RJ)?
José Dirceu -
 Nem sei se ele disse isso. Essas coisas viram dito pelo não dito. Mas o Lula não dá cheque em branco pra ninguém. Não é da natureza dele. Pelo contrário, ele delega, mas controla, cobra. Ele é um presidente da República que tem controle sobre tudo o que está acontecendo. O Lula trabalha, chega cedo e sai tarde. E quem acha o contrário, ótimo. Porque vai subestimar o Lula e vai nos subestimar.
PLAYBOY – Mas então ele sabia do caixa dois, do dossiê fajuto contra os tucanos, não?
José Dirceu – [Irritado.] 
- Não está sob atribuição da Presidência da República. Isso não era matéria de governo, era de partido. Tanto é que o país reconheceu isso, o TSE reconheceu. Presidente da República não pode ser responsabilizado. Aliás, eu não posso ser responsável como ministro da Casa Civil por nada que aconteceu no PT, nada que aconteceu no
 Congresso. Por isso que eu sou inocente. Não há como me responsabilizar.
VolteiEntenderam? Reconheceram ali a defesa de Oliveira Lima? Ela repete a ladainha de 2007. A tese, no fundo, é a seguinte: como ele era chefe da Casa Civil e não tinha responsabilidade funcional no PT, então é inocente. Como Lula era presidente da República, então é inocente. Trata-se de uma inversão perniciosa do sentido de um fundamento do direito. NINGUÉM PODE SER RESPONSABILIZADO POR ISSO OU POR AQUILO SÓ EM RAZÃO DO CARGO QUE OCUPA. Certo!  No caso do Zé, ficou claro que o exercício desse cargo convivia com o estrito controle do PT. As duas coisas estavam imbricadas. Eis o ponto. Era ele quem operava e sacramentava as alianças — justamente com os partidos (e seus parlamentares) que estavam recebendo o dinheiro do mensalão.
Zé Dirceu é um tipo muito particular: ele quer que lhe reconheçam o poder, o prestígio e a influência nas coisas que lhe servem para estufar o peito. Quando se trata de responsabilidades, ele pula fora. Agora vamos ao terceiro trecho:
PLAYBOY – O senhor disse que o presidente Lula não passa cheque em branco pra ninguém. E o senhor?
José Dirceu -
 Pra ninguém.
PLAYBOY – Nem pra sua mãe?
José Dirceu -
 Pra ela eu dou dinheiro vivo.
ComentoO comandante-geral do PT, aquele que cuidava de tudo, o que sacramentava as alianças, bem, ele não dava cheque em branco para ninguém. Lula também não! Certo! Então quem dava um “cheque em branco” para Delúbio? Vejam que coisa fabulosa! Lula não sabia de nada. Dirceu não sabia de nada, embora ambos sempre fizessem questão de saber de tudo!. É um enigma.
E uma ironia: considerado que o mensalão foi o espetáculo por excelência do dinheiro vivo, a gente nota que o Zé não teme mesmo a piada, né?
Para encerrarA defesa de José Dirceu anda a reclamar que a Procuradoria Geral da República usou testemunhos da CPI, que não teriam sido submetidos ao contraditório etc. e tal. Sei. Ofereço essa entrevista do Zé ao Supremo, para que seja agregada aos autos. Afinal, ninguém poderia falar melhor pela defesa do que o próprio réu, não é? E, como se nota, o que se tem acima é uma confissão.
Por Reinaldo Azevedo

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